Banco aponta três candidatos a inverterem tendência de retomada econômica

Data: 07/12/2009
Fonte: InfoMoney

SÃO PAULO - U, V, W... Previsões sobre qual será o caminho de recuperação traçado pela economia ganham espaço nas discussões sobre o assunto. Acreditando em uma retomada em W, os analistas do Credit Suisse levantam a questão: "o que poderia originar a próxima perna para baixo do crescimento econômico?", fazendo alusão à "segunda queda" esperada antes de uma retomada mais sólida.

Analisando o cenário atual, a equipe de análise do banco aponta três possíveis candidatos a puxarem a atividade econômica para baixo. O Federal Reserve, através do apertamento da política monetária; o governo norte-americano, por conta de uma crise no financiamento de sua dívida; e a China, em virtude da aceleração no ritmo de crescimento dos preços no país.

Tripé do Fed e fator histórico
Na última reunião do último dia 4 de novembro, o Federal Reserve optou por manter juro básico norte-americano na faixa entre 0% e 0,25% ao ano, afirmando também que manterá a taxa em níveis excepcionalmente baixos por um extenso período de tempo, apoiando-se em três condicionantes: a baixa utilização de recursos, tendência de inflação controlada no curto prazo e a perspectiva de inflação estável.

Segundo os analistas do Credit Suisse, dentre esses três fatores levantados, apenas o último pode colocar em risco a estratégia adotada pelo Fed de manter a taxa básica nos níveis atuais por um longo tempo.

Além disso, a expectativa de que o banco central norte-americano mantenha uma postura cautelosa deve-se ao seu histórico de atuação. "Historicamente, o Fed aumenta os juros 19 meses depois do pico na [taxa de] desemprego", afirma o time de análise da instituição, concluindo que isto resultaria num aumento das taxas apenas em 2011.

Ainda em torno do fator histórico, os especialistas destacam que o Federal Reserve sabe os impactos negativos que um apertamento precoce pode ocasionar na economia. Por fim, a instituição também destaca que a autoridade monetária dos EUA pode utilizar de ferramentas que não estejam ligadas à política monetária, para proteger a atividade econômica do país.

Crise no financiamento do governo
Para os analistas do Credit Suisse, uma crise no financiamento da dívida governamental tem grande chance de ocorrer. No entanto, isso deve se tornar um fator preocupante apenas quando o crescimento dos níveis de empréstimos bancários e do crédito concedido ao setor privado seja retomado - ou seja, quando não houver mais financiamento para a dívida do país, já que os empréstimos ao setor privados serão mais interessantes.

Atualmente, a participação dos ativos das instituições financeiras em títulos do governo encontra-se em 11%. Para que esse valor chegue aos 20% - visto em 1993 -, esses bancos precisariam adquirir cerca de US$ 1,1 trilhão em títulos, valor próximo a dois terços da projeção de déficit fiscal para 2010.

Porém, com "as curvas de juros tão íngrimes quanto em 1993, o fraco crescimento nos empréstimos e as medidas regulatórias incentivando bancos a comprar mais títulos", o time de análise acredita que isso possa se tornar realidade. Aliado a isso, os gastos governamentais tem sido contrabalanceados em parte pelo movimento crescente de poupança do setor privado e da diminuição dos déficits em conta corrente, informam os analistas.

No entanto, com o crédito privado e os empréstimos bancários atingindo seus pontos máximos, os bancos enxergarão no crédito corporativo um caminho mais atraente e rentável do que ficar financiando as dívidas do governo, devendo assim inverter a tendência de participação de sua estrutura de capital em títulos públicos.

Contudo, esse cenário só deve se tornar perceptível a partir do segundo semestre de do ano que vem. "Por isso, somente no final de 2010 ou no começo de 2011 nós provavelmente vamos ver uma crise no financiamento do governo", conclui o Credit.

China e a aceleração nos preços
Passando para a economia chinesa, os fatores preocupantes estão vinculados ao forte crescimento da gigante asiática. Segundo os analistas, os riscos maiores não estão vinculados a um superaquecimento financeiro - onde as autoridades podem utilizar de artifícios para impedir que isso ocorra -, mas sim a um superaquecimento econômico.

Em virtude da forte expansão da China, a equipe de análise do banco suíço liga o sinal de alerta para a combinação de dois fatores que podem surgir como consequência desse boom econômico no país: a valorização da moeda nacional, o yuan, e um forte aumento nas taxas de juros.

Um apertamento repentino na política monetária do país poderia impactar diretamente o setor financeiro chinês, aumento substancialmente os níveis de inadimplência (os PDDs, ou Provisões para Devedores Duvidosos), além de também levar a uma diminuição da demanda chinesa por títulos do tesouro norte-americano, impulsionando os rendimentos desses treasuries.